Parta o nó, eu parto a linha


Frances Ha, 2012, Noah Baumbach n' Greta Gerwig


Antes de abrir o google e buscar pela letra, eu sempre achei que Someone Great de LCD Soundsystem era uma música sobre perder uma amizade [e de certa forma é], mas aparentemente é para o terapeuta do James Murphy (vocalista) que se matou, e bem faz sentido.

Isso também se aplica à Não tenho imaginação para mudar de mulher do Marconi Nonato, e eu sei que ela é sobre um término de relacionamento 'amoroso', mas... Ela me lembra também uma amizade, principalmente no final, nas últimas tristes notas:

Curte a sua, eu curto a minha
Parta o nó, eu parto a linha
Acabou tudo que tinha
Vou partir pra outra você
Melhor pra mim
Melhor pro meu
Bem mais melhor pro seu

Amizades são os grandes relacionamentos da minha vida. Sempre foram.

Até porque minha introversão causada por anos de racismo e bullying fizeram uma camada muito grossa de proteção para aproximações com um interesse maior que amizade. E bem, não é a primeira vez que "termino um relacionamento", mas acho que é a primeira vez que tenho tanta dificuldade para superar o luto. O motivo me causa mais vergonha do que provavelmente causa nela, mas esse não é o foco aqui. No começo do meu namoro com meu atual companheiro, eu sempre dizia que essa minha amizade era um relacionamento, tão importante quanto o que tenho com ele, provavelmente.

Para ele amizades e relacionamentos 'amorosos' são coisas diferentes. Eu também ouvia isso da minha ex, quando eu costumava repetir a história em busca de aprovação moral, como se eu precisasse do troféu de inocência naquele término.



O término com essa amiga causou tudo que um término de um casal normalmente causa ao redor de onde estão: horror, negação, fofoca, separação de bens e amigos... Enfim, nem separação de bens deu pra fazer, tanto que ela com certeza me amaldiçoa quando lembra que sua coleção de Sex and The City está incompleta porque eu estou com dois DVD's. 

Mas essa não é a questão.

Meu filme preferido por muito tempo foi Frances Ha (2012) do Noah Baumbach com a Greta Gerwig, porque eu me identificava com a angústia do amadurecer da protagonista e também pela celebração da amizade, que era o ponto explorado no filme. Eu sentia que os diretores entendiam o que eu sentia desde o ensino médio quando achavam nossa amizade "lésbica" demais. Bem, confesso que eu não ajudava muito, minha bissexualidade estava aflorando e a dela também, mas novamente, amor no sentido 'romântico', não é a questão aqui.

Essa temática também é abordada em Girlfriends (1978) da Claudia Weill, que inclusive é a fonte de Frances Ha e outra série preferida minha, Girls (2011), da Lena Dunham. Quando a amizade é, de fato, um relacionamento, e o quão doloroso é deixá-lo partir.

Eu sempre fui muito reservada, ela sabia muito de mim, mas acredito que nunca chegou no poço e tocou a água que meu namorado praticamente tomou banho nesse relacionamento que cresce cada vez mais. Mas, quando eu a tinha, eu não precisava de mais ninguém. ela era a minha prioridade.

No ano que perdi essa amiga, foi o ano que mais tive envolvimentos amorosos, era como se eu tivesse perdido critério, ou melhor, como se eu estivesse... Na pista? A cadeira vazia que ela deixou foi ocupada por muitos candidatos, e por mais que fosse divertido pela primeira vez estar experimentando relacionamentos diversos, eu sabia o que eu estava fazendo.

Girlfriends, 1978, Claudia Weill
Girlfriends, 1978, Claudia Weill


Todas as minhas outras amigas estão em outras cidades, estudando, e, assim como no filme, quando ela se vai, eu não combino com mais ninguém. 

A experiência da solidão no âmbito da amizade literalmente não dói como a amorosa.
 
Esse artigo maravilhoso da independent.co fala muito sobre o término de uma amizade, mas numa perspectiva mais parecida com a do filme, onde a Sophie se afasta da Frances após firmar um relacionamento. Isso não se aplica a nós, nosso termino foi por muitas palavras não ditas e sentimentos abafados e duas pessoas que não sabiam se expressar corretamente. 

E assim como ela termina o artigo, eu termino aqui. Esse foi o melhor relacionamento da minha vida, e por mais que eu queira voltar no tempo e reparar os estragos, não vale a viagem. 

Deixar repousar o que ficou no passado... e celebrar as memórias.







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