Por trás do MrT4mbour1ne

 

Chungking Express (Wong Kar-wai, 1994)



Não sei muito bem quando música se tornou algo relevante na minha vida.

Eu cresci com um pai muito fã de Alcione e Tim Maia, mas eu era jovem e enjoada demais para admitir que ambos eram deuses da música brasileira, especialmente o Tim Maia cujo hoje em dia eu sei toda a discografia.

Entre 14, 15 anos, eu tive acesso à Skins, e quem assistiu essa série sabe que um de seus principais presentes é a trilha sonora poderosa. Eu conheci muita música indie por conta de Skins e por muito tempo esse fora o meu gênero preferido. E talvez por primeiro ter conhecido The Strokes, Arctic Monkeys nunca foi algo que me chamou atenção. Arcade Fire, Phoenix, Crystal Castles, Gossip... Essas bandas me faziam sentir uma pessoa descolada e 'por dentro', principalmente na escola. Lá eu me dividia entre ceder e ouvir um pouco de emo [que só foi explorado bem tardiamente nas minhas playlists] e o alternativo do rap que acontecia no momento: Azealia Banks, Tyler the Creator, Kendrick Lamar, entre outros.

Eu passava horas e horas no meu quarto assistindo aos episódios enrolada em cobertas e pausando para pesquisar as músicas que se passavam nas cenas e adicioná-las à minha playlist, para explorar a banda posteriormente.

Skins, 2007 - 2013.


Eu sempre era a responsável por levar o pen-drive na festa, e eu passava horas e horas montando a playlist, pensando em que clima a festa estaria em determinada hora e que gênero musical eu deveria colocar para levantar o astral.. Ao mesmo tempo que me sentia envergonhada quando as pessoas ficavam completamente perdidas, estranhando a música, eu me sentia culta e diferente.

Aliás, eu sabia como ser diferente.

Na época dos fakes do Orkut, eu andava muito pela Balada Fake, no auge dos meus 12 a 14 anos... E lá eu descobri que ser culto era gostar de Janis Joplin, Jimi Hendrix, Bob Dylan, esse último inclusive rendeu anos e anos de perfis com o nickname de MrT4mbour1ne 😷. Bem, na época eu não gostava de nenhum deles de verdade, eu só ouvia pra ser legal, demorou pra que eu entendesse que tudo bem ouvir o que você gosta e que insistir em algo não vai fazer você gostar. O único que rendeu alguns anos de escuta fora os Beatles, mas depois que descobri que todos eram uns idiotas eu esqueci da banda e dediquei meu amor penas pela Yoko Ono, apesar de ainda chorar copiosamente ao ouvir Yesterday

No fim do ensino médio eu ouvia Bowie e eu praticamente tomava banho com uma camiseta linda que eu tinha dele. E eu gostava mesmo dele, só não estava afim de ver os filmes que ele participou, mas na época, para se provar fã, eu falava que eu estava me guardando para ver, pois era muito especial.

Eu não vi até hoje, e nem quero ver.

Pouco antes de me apaixonar por um músico, foi a época que meu gosto musical mais tomou força... Eu tinha descoberto o Nirvana (!!!). Graças a Deus eu não tive o cruel destino de achar que o Nirvana era a única banda existente do anos 90, não me lembro exatamente como eu descobri o Bikini Kill, mas minha vida mudou a partir delas.


Bikini Kill


Eu já tinha ouvido bandas de garotas no rock, mas para ser sincera, eu não gostei muito de The Runaways ou L7, mas Bikini Kill era sujo, mal feito, escandaloso e mal cantado por uma jovem Kathleen Hanna abrindo espaço no punk/alternativo dos anos 90 na base do chute. A cena punk dessa época era extremamente violenta, as garotas tinham pouco espaço para se expressar naquele meio dominado por homens se espancando durante os shows, mas ela mudou tudo isso com um simples "girls to the front".

Enfim, eu falarei mais sobre Bikini Kill no futuro.

O Kurt Cobain é um filho dessa leva que a Kathleen Hanna criou, e ele mesmo já admitiu isso várias vezes enquanto vivo. Eu descobri muito mais do Kurt para além do Nirvana na belíssima biografia Heavier Than Heaven, 2001 de Charles R. Cross. Antes de ler essa bio, eu já era apaixonada pela Courtney Love, e para mim o maior representativo do grunge 90's é sua banda, Hole, não o Nirvana. 

Eu sou culpada pra falar de mulheres problemáticas (Oi Lena Dunham), a Courtney não é uma santa, mas ela foi fundamental no movimento riot grrrl levantado por Tobi Vail e várias outras garotas do punk dos anos 90, como o Sleater Kinney, outra banda do coração. 

Antes ou depois do Bikini Kill eu conheci a minha banda preferida, na verdade eu tive medo. O primeiro contato que eu tive com Fugazi foi esse vídeo estranho que não consigo carregar aqui. É um show [que descobri anos mais tarde que é um dos primeiro do grupo], em um porão esquisito e apertado com homens magros demais e sem camisa, é sujo, rápido e bem feito. Fiquei assustada e animada, e em pouco tempo Fugazi era tudo na minha vida, essa banda me toca profundamente pela maestria, pela negação ao capitalismo, pelo real amor à música e por ter sido o ponto de inicio para várias bandas hoje em dia que provavelmente você gosta, eu também irei falar deles no futuro.


  
Fugazi - Bad Mouth em 1988


Quando eu conheci o músico, ele, apesar de ter me tratado que nem um cachorro, desenvolveu em mim uma coisa boa: o gênero musical mulheres sofredoras. O período que eu mais descobri, que eu mais ouvi música, assisti filmes incríveis [vide Wong Kar Wai no início do post] foi nessa época maldita. Fiona Apple disse que ela só cria quando tem algo de ruim para exorcizar, e isso me faz questionar: a época que estive mais sensível à música era a minha época mais sensível espiritualmente e emocionalmente. 

Enfim,

Fiona Apple é uma cantora que gosta de escrever sobre seus sentimentos, e eu passei muito tempo presa em seu album The Idler quando eu estava apaixonada pelo dito cujo, músicas extremamente tristes e pesadas de Elliott Smith, Chelsea Wolfe, The National, Angel Olsen... Todos faziam um sentido para mim que hoje, infelizmente [ou felizmente?], são apenas músicas bonitas e bem escritas. Uma música dessa época que até hoje me faz chorar muito é Your Love Is Killing Me da Sharon Van Etten, que é sobre um relacionamento onde ela admite que só conseguirá se desligar no dia em que ele cortar todos os meios dela chegar até ele.

Eu assisti a PJ Harvey ao vivo em 2017, e eu me lembro de vê-la olhar na minha direção [primeira fileira ok queridas] enquanto cantava White Chalk, mas provavelmente foi pena, porque eu realmente estava chorando muito. Foi um ano triste, e uma paixão tão tensa que me rendeu até mesmo tuberculose, a doença dos românticos.

Girls, 2012, Lena Dunham


Hoje eu estou em um relacionamento saudável, com alguém que realmente gosta de mim, e esse estado constante de tristeza que antes me rendia uma sensibilidade quase como um super-poder para ouvir músicas tristes já não se ativa da mesma forma comigo, eu demorei uns meses para realmente curtir o Fetch The Bolt Cutters, o novo album da Fiona Apple. Eu ainda amo todos esses cantores e criadores que me ajudaram nesse período tenebroso da minha vida, e reencontrá-los e ouvi-los saudável me deixa feliz e calma. Obrigada Nick Cave, Tim Maia, Maria Bethânia...

Eu escuto de tudo. Eu transito entre muitas coisas, até sertanejo [Marilia Mendonça, Simone e Simaria mamães?]. Eu realmente gosto de tudo, principalmente mulheres [rs]. Hoje admito que passo mais tempo ouvindo minhas mulheres preferidas da música, seja lá o gênero que elas estejam. Gosto de ler o livro de Kim Gordon e depois ouvir sua música, sentindo como se eu tivesse acabado de conversar com ela.

 
All Over Me de Alex Sichel, 1997

Tenho essa relação profunda com a Patti Smith, já li quase todos os seus livros (falta um), e eu nunca me canso de ouvi-la, ela é uma das poucas cantoras que realmente gosto de assistir shows, podem ser inteiros ou apenas uma música. Ela veio para o Brasil em 2019, mas eu não tive dinheiro para vê-la, infelizmente, ela já está bem idosa, e eu realmente espero conseguir vê-la antes que seja tarde demais. Antes esse sonho de ver alguns artistas incluia o Morrissey, mas prefiro fingir que ele morreu e ficou apenas sua trajetória early The Smiths. Espero por Courtney Love (que abriu a tour The Endless Summer Tour da Lana del Rey, em 2014 e perdi), Patti, Fiona, Nick Cave (não tive dinheiro, era a tour do perfeito skeleton tree, veja o filme). Por enquanto, eu vou no show de outros preferidos.

Enquanto isso eu vejo bandas que provavelmente não tem mais de três músicas para formar um álbum, em pequenos shows de garagem, que o público não passa de 10 pessoas. Ou grande shows de músicos incríveis como o Dead Fish, Rakta, Black Alien, Saskia, Urias, Linn da Quebrada... É muito bom descobrir música, esse é minha maior paixão.

Esse post não falou muito sobre música brasileira, porque também vou deixá-los para um post exclusivo.

Agora vou ouvir o EP Corpo sem Juízo da Jup do Bairro.

E você?



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